Qualidade de vida digital: conheça os países mais conectados do mundo
Data da publicação: 15 de julho de 2019 Categoria: Notícias mais recentesA conectividade está mudando a cultura em todo o mundo e, em muitos países, a internet já é parte integral do dia-a-dia. Internet de alta velocidade, acessibilidade móvel e pagamentos sem papel-moeda impulsionam cada vez mais a economia global, e alguns países estão fortemente inclinados a esse futuro digital.
Quais países oferecem melhores serviços baseados em tecnologia de ponta? A InterNations – uma empresa de rede social para imigrantes – divulgou recentemente um relatório chamado “Digital Life Abroad” (Vida Digital em outro país, em tradução livre).
O material classifica os países para expatriados com base na disponibilidade de serviços governamentais online, a facilidade de obter um número de celular local, a disponibilidade de internet de alta velocidade em casa, facilidade de fazer pagamentos sem dinheiro físico e acesso aberto à internet.
O Brasil está em 50º lugar no ranking do InterNations – dentre 68 países avaliados. Conseguir uma conexão de internet rápida em casa e um número de telefone local são os quesitos nos quais o país se sai pior, em 62º e 60º lugar, respectivamente.
Em termos de qualidade de vida digital, o Brasil está abaixo de países como a Sérvia (44º lugar), a República Dominicana (45º) e o Cazaquistão (48º).
A reportagem da BBC Travel falou com residentes dos países que estão no topo do ranking da InterNations. Eles contam como é viver em um país altamente conectado.
Estônia, 1º lugar no ranking geral
Classificada em primeiro lugar geral na pesquisa InterNations (com primeiro lugar nas categorias de acesso irrestrito à internet e serviços governamentais on-line), a Estônia investiu pesadamente em sua infraestrutura digital desde que se tornou independente da União Soviética, em 1991.
O programa governamental e-Estonia introduziu inovações como o voto eletrônico, programas de saúde e de acesso à rede bancária por meio da internet.
A Estônia possui inclusive uma modalidade de ‘residência eletrônica’: até mesmo não-cidadãos podem pedir uma ‘residência virtual’ que lhes dá direito a benefícios como carteira de identidade, serviços bancários, processamento de pagamentos e capacidade de formar uma empresa.
O programa hoje é voltado para atrair os nômades digitais e empresários estrangeiros que desejam iniciar uma empresa com sede na União Europeia – o que, por sua vez, traz novas oportunidades para a economia da Estônia.
“O acesso à internet é considerado um direito humano básico na Estônia. Mesmo nas remotas ilhas estonianas, como Saaremaa, há acesso à internet”, diz a empresária austríaca Alexandra Nima, que hoje vive na capital estoniana Tallinn. “Tudo aqui é feito o mais rápido possível, desde registrar-se como residente até abrir uma empresa online”, diz ela.
O modo de vida conectado do país faz com que até chamadas telefônicas estejam se tornando ultrapassadas. “É muito mais fácil pedir algo por meio de um chat”, diz Tarmo Annus, morador de Tallinn. Tarmo é desenvolvedor de uma plataforma de criptografia chamada Obyte.
“Em vez de ligar para uma loja, se ela estiver aberta durante as férias, eu simplesmente escrevo para ela no [aplicativo de mensagens] Viber”, conta ele.
Finlândia, 2º lugar no ranking geral
Com pontuações consistentes em quatro das cinco categorias, a Finlândia ocupa o segundo lugar geral em qualidade de vida digital – e é a primeira em pagamentos sem dinheiro.
O papel da internet aqui é considerado tão importante que, em 2010, o governo tornou um direito legal para todos os cidadãos terem acesso a uma conexão de banda larga. A Finlândia foi o primeiro país do mundo a fazê-lo.
“O acesso à Internet de alta velocidade – combinado com a liberdade de expressão – torna nosso ecossistema mais sustentável e seguro”, diz Heikki Väänänen, CEO e fundador da plataforma de feedback de clientes HappyOrNot.
Ele mora em Tampere, no sul da Finlândia. “Todo mundo tem acesso à informação e a internet dá oportunidades iguais para aprender e impactar no futuro do país.”
A facilidade de acesso on-line a serviços governamentais e a tradução automatizada de muitos serviços é especialmente útil para os recém-chegados.
“A vida digital significa automação, como caixas de supermercado (automatizados), e também significa serviços online em inglês, o que facilita a rotina diária sem falar ou entender finlandês”, disse Peter Seenan, criador do blog Finland My Home. Ele viveu em na capital Helsinque por oito anos, e é originalmente da Escócia.
“Hoje em dia, há muita informação on-line em inglês na Finlândia, desde a contratação de um médico até o conhecimento de seus direitos como trabalhador. Isso mudou drasticamente desde quando cheguei aqui como estudante de intercâmbio em 2004”, diz Seenan.
Israel, 6º lugar no ranking geral
Israel fica em terceiro lugar nas categorias de acesso irrestrito à Internet e em facilidade de obter um número de celular local.
O país possui um setor de tecnologia forte e inovador. Os moradores adotaram alegremente o apelido “startup nation” do país e poucos moradores não usam aplicativos sociais e de comunicação.
“Até mesmo os idosos têm smartphones e conversam no Facebook ou por WhatsApp. Não é incomum você ver uma senhora nos seus 70 anos fazendo uma videochamada para os netos nos EUA, por exemplo”, diz Maria Pinelis, do InterNations.
Rafael Hope é CEO da Amen V’Amen, uma empresa de mídia digital. Ele vive num subúrbio de Tel Aviv e diz que a internet lá é rápida, barata e confiável, o que ajuda empreendedores iniciantes e nômades digitais.
“Eu mesmo trabalho principalmente em casa e em cafés, o que significa que confio muito na internet pública”, disse ele. “Muitas cafeterias oferecem Wi-Fi público gratuito. E as companhias de telecomunicação de Israel oferecem Wi-Fi público em muitas áreas metropolitanas para que seus clientes possam usar gratuitamente”, conta.
Aqueles que procuram o estilo de vida das startups geralmente vão para Tel Aviv, onde estão a maioria das quase mil empresas deste tipo em Israel. Tel Aviv é conhecida como “a cidade que nunca dorme” no país.
“Isso certamente atrai muitos israelenses, particularmente os jovens, que estão dispostos a suportar os altos preços dos aluguéis em ‘Tel’ só para fazer parte dessa cena”, conta Hope.
Canadá, 7º lugar no ranking geral
Em sétimo lugar geral, o Canadá pontua bem na maioria das categorias, particularmente na disponibilidade de serviços governamentais online e em pagamentos sem dinheiro.
A vida digital tende a ser mais fácil nas grandes cidades, onde a tecnologia foi adotada mais rapidamente e os serviços de internet são mais rápidos e mais acessíveis.
“Centros maiores como Toronto são mais amigáveis à vida digital”, disse o canadense Eric Wychopen, que é blogueiro do site Penguin and Pia. “Métodos de pagamento sem dinheiro, inclusive pagamento com celular, certamente estão em alta em lojas menores e mais novas”.
O acesso à internet aqui tende a ser mais caro do que em outros países, porém, e a cobertura em áreas remotas pode ser irregular.
“O Canadá costuma encabeçar várias listas de países com acesso mais caro à Internet, além de apresentar um serviço de banda larga relativamente lento”, disse Thomas Jankowski, diretor da plataforma de negociação de criptomoedas Coinsquare.
Mas, de modo geral, a disponibilidade de serviços governamentais online e o acesso a serviços em geral por meio da internet são de grande ajuda para empreendedores – facilitando a abertura e o gerenciamento de negócios.
“Ser capaz de iniciar e operar uma empresa on-line, lidar com operações bancárias, contabilidade, pagar contas, renovar documentos a partir de casa, de um café, ou até mesmo uma barraca (no caso de um camping com Wi-Fi), pode ser maravilhoso para economizar tempo e recursos de uma empresa”, diz Jankowski.
Coreia do Sul, 27º lugar no ranking geral
Mesmo tendo ficado em 27º no ranking geral, a Coreia do Sul está em primeiro lugar em termos de velocidade da internet doméstica – é um país que permite aos seus residentes trafegar em altíssima velocidade na web.
“A vida cotidiana na Coreia do Sul se move muito rápido. Você consegue comprar comida online e pagar por ela em cinco segundos”, disse Choi Ye Eun, de Seul.
Além de pegar o primeiro lugar em velocidade da conexão doméstica, o país também tem as maiores velocidades de internet do mundo, o que significa que opções de entretenimento de jogos a streaming de vídeo são acessíveis em qualquer lugar. “É uma coisa incrível: não ficamos entediados no trem porque podemos assistir ao YouTube e navegar pelas hashtags do Instagram”, diz Choi.
O morador de Seul Lee Namoo (Martin) concorda. “A velocidade da internet na Coreia é a inveja do mundo. Eu posso ter certeza de que o meu streaming de vídeo será ininterrupto, de que vou conseguir fazer downloads rápidos de jogos e mídia, e de que comunicações, como chats de vídeo, vão funcionar plenamente”.
O governo permite acesso à Internet relativamente aberto no país, diferente do que ocorre na vizinha China ou na Coreia do Norte. Isto levou os cidadãos da Coreia do Sul a se tornarem mais engajados civicamente.
“A igualdade digital trouxe o avanço da democracia na Coréia do Sul”, diz Choi. “O acesso irrestrito à Internet ajudou os cidadãos a se interessarem mais pelos problemas sociais e permitiu que eles se mobilizassem mais facilmente contra uma decisão errada de um político”, diz.
A mídia social recebeu o crédito direto pelo fortalecimento dos protestos de 2016-2017, que provocaram a renúncia da ex-presidente Park Geun-hye por abuso de poder e corrupção. A Coreia do Sul também foi atingida em cheio pela mobilização feminista #MeToo, que resultou em prisões e mais conscientização sobre assédio sexual.
Alguns serviços e aplicativos, no entanto, deixam a desejar, mesmo que possam ser acessados rapidamente. “Alguns serviços digitais aqui carecem de usabilidade básica, e o software às vezes pode atrasar meus dispositivos e liberar dados pessoais”, disse Lee.
No início deste ano, descobriu-se que alguns aplicativos sul-coreanos para Android vazavam senhas e dados financeiros, e o país foi classificado recentemente pela agência Bloomberg como o país de maior risco para possíveis violações de dados. Como alternativa aos aplicativos locais, Lee prefere usar aplicativos dos EUA, como Amazon e PayPal, para obter uma interface mais conveniente.
Fonte: G1