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Cientistas desenvolvem projetos para reaproveitar o óleo que está poluindo o litoral do Nordeste

Data da publicação: 31 de outubro de 2019 Categoria: Notícias mais recentes

Desde que a primeira mancha de óleo foi observada no dia 30 de agosto no estado da Paraíba, munícpios e governos tentam combater o pior desastre ambiental já registrado na região: mais de 250 locais que incluem praias e reservas ambientais já foram contaminados pelo vazamento, que ainda não tem origem oficialmente esclarecida. Já foram recolhidas mais de 1 mil toneladas do resíduo, mas a questão que fica é: qual será o destino desse óleo todo?

O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) conta que parte do material recolhido está a cargo da Petrobras e o restante do resíduo recolhido foi destinado a empresas de tratamento ligadas a governos estaduais e municipais. “Está sendo feito um trabalho de interlocução direta com os estados afetados, articulações com o Sindicato Nacional das Indústrias de Cimento (SNIC) e com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) para, oportunamente, realizar a destinação final ambientalmente adequada”, diz o instituto.

Petróleo polui praias do Nordeste desde o início de setembro (Foto: MÁRCIO GARCEZ/Agência O Globo)

A indústria do cimento
Em Pernambuco, em Igarassu, no Grande Recife, o petróleo está sendo utilizado em fábricas cimenteiras, além de servir como matéria-prima para fabricar combustível usado pelas indústrias. O processo de reaproveitamento do óleo ocorre no centro de tratamento de resíduos Ecoparque Pernambuco (CRT).

O diretor técnico do CRT, Laércio Braga Chaves, conta que desde sábado chegaram ao centro de tratamento mais de 18 toneladas de petróleo. “O óleo é misturado com outros resíduos industriais que a gente recebe como papelão, papel, plástico e madeira”, diz.

Mstura energética, conhecida como blend, fabricada pelo Ecoparque Pernambuco (CRT) a partir do petróleo (Foto: Acervo Pessoal / Laércio Braga Chaves)

Segundo Chaves, a mistura de materiais passa por um pré-triturador, segue por uma esteira e por uma peneira, saindo mais fino. Depois, passa por outra peneira e por um triturador com mecanismo de rotação. O resultado é uma mistura energética, conhecida como blend, formada de pequenas partículas de cinco milímetros, que depois é vendida para duas fábricas cimenteiras no estado vizinho da Paraíba.

As indústrias usam esse produto nos fornos como combustível: de acordo com especialistas, tal material conta com um maior poder de queima e substitui outro derivado do óleo usado pelas indústrias de cimento, chamado de coque. Chaves explica que essa opção é melhor do que levar o petróleo até aterros sanitários, onde o material pode degradar o solo.

 

Carvão a partir do óleo
Outra alternativa para o petróleo é transformá-lo em carvão. Com esse intuito, um projeto, ainda em andamento, está sendo realizado por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e em breve poderá ser replicado em larga escala.

Os pesquisadores acreditam que, graças ao método desenvolvido, será possível  aproveitar qualquer quantidade de óleo – de 10 quilos até 1 tonelada do material. Por enquanto, foi possível transformar 60 quilos de petróleo em carvão em apenas uma hora.

A pesquisadora da UFBA, Zênis Novais da Rocha, explica que o processo é feito misturando o petróleo com pó de serragem, acetona e etanol (álcool comercial). As duas últimas substâncias servem para deixar o petróleo, que é viscoso, com uma consistência fluida.

Petróleo misturado com areia da praia tem aspecto bastante viscoso (Foto: Acervo Pessoal / Zênis Novais da Rocha)

“Isso deixa mais fácil para que o óleo escorra”, conta a pesquisadora. “Depois, colocamos o pó de serragem para conseguir separar mais o óleo em forma de borra”. A seguir,  é adicionado à mistura um bioacelerador.

Essa substância é criada em laboratório e serve para agilizar o processo de degradação do petróleo, alterando a composição do óleo. Ela é fabricada adicionando um biodegradador, que descaracteriza o petróleo aos poucos, sendo posteriormente acrescentando três bioativadores e um biofinalizador, compostos que servem para começar a agilizar a reação.

Todos os ingredientes são despejados em uma máquina de construção civil conhecida como betoneira, um equipamento usado para bater cimento. No fim, sai o carvão, que ainda passará por testes para definir o seu uso. Da Rocha supõe que o material possa ser aplicado na construção civil, principalmente para a construção de asfalto.

 

máquina de construção civil conhecida como betoneira (Foto: Acervo Pessoal / Zênis Novais da Rocha)

A ideia para fabricar o carvão surgiu de um trabalho desenvolvido pelos pesquisadores há quatro anos. Os especialistas desenvolveram na época bioaceleradores para degradar resíduos de alimentos crus e cozidos, além de coco verde para a produzir fertilizante orgânico.

Como o resultado foi bom, eles resolveram testar os bioaceleradores no petróleo. A grande vantagem da tecnologia é que, segundo os pesquisadores, a composição do ingrediente não agride o solo nem a fauna e flora. “Iremos avaliar os impactos do carvão para o solo e para as plantas, mas sabemos que a tecnologia do bioacelerador é sustentável e eficiente”, conta a pesquisadora.

Fonte: Revista Galileu

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